Saturday, October 20, 2007

A Pizza de Chocolate

O Cara de Milho me desafiou a escrever um conto que incluísse: Pizza de Chocolate, Van Gogh e Bozo. Isto foi o que deu para fazer ...

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É difícil de acreditar que eu estou aqui maquiado como o palhaço Bozo, com o auto-retrato de Van Gogh estampado em uma camisa de algodão e segurando uma pizza média de chocolate no dia mais frio do ano. Falando assim a situação parece mais estranha do que é. Em tempo vocês vão perceber que há sentido em tudo isto. Para entender a mensagem tanto o emitente quanto o destinatário precisam compreender os símbolos nela contidos.


Tudo começou com a operação Áurea da Polícia Federal na qual cinqüenta e seis pessoas foram presas, três indiciadas e um processo enviado ao Supremo Tribunal Federal. Ultimamente a PF vem utilizando nomes engraçadinhos para as operações de grande porte que incluem outros órgãos como Receita Federal e neste caso o Instituto Nacional de Seguridade Social. O que talvez pouca gente saiba é que muitas destas grandes operações são parcialmente financiadas por dinheiro estrangeiro. Parte do que vou escrever aqui não pode ser verificado nem confirmado. Eu mesmo não sei se é verdade e sugiro ao leitor que entenda as informações a seguir como boato, tal qual eu vejo. Eu ouvi este mesmo relato de um amigo que é delegado da Polícia Federal, embora o relato seja bem detalhado, pode ser somente fruto de mais uma destas mentes que vêm conspirações em tudo, mais um daqueles que acredita que as medicações anti-paranóia estejam conspirando contra ele.


Depois da guerra-fria, a CIA sofreu uma séria crise de identidade. O investimento pesado em sistemas sofisticados de vigilância e em armamentos futurísticos aliados ao desmoronamento da União Soviética levou os Estados Unidos a acreditarem que estavam protegidos de tudo. Em 2001 a realidade veio servir de contra-prova e o rei viu-se nu. A CIA estava impregnada de analistas, funcionários normalmente com doutorado em ciências políticas ou algo do gênero, que passam o dia estudando uma cultura, país ou tendência, enquanto o número de agentes de campo estava no menor nível desde a criação da agência. Exceto na psique de Hollywood, a realidade é que não há mais muitos agentes de campo bem treinados que conseguem falar várias línguas e captarem agentes estrangeiros, termo que significa aliciar cidadãos estrangeiros. Nos consulados americanos, a maioria dos attachés diplomáticos é agente de campo da CIA de acordo com meu amigo. Está na folha de pagamento da CIA, como agentes estrangeiros, um grande número de Policiais Federais incluindo este dito amigo. "Este é a verdadeira Tropa de Elite", diz ele, "somente policiais honestos e para ser agente precisa passar pelo temido polígrafo, perguntam até se você é veado". Os agentes recebem um extra de até dois mil dólares mensais, pagos em dinheiro dentro da própria PF para em troca participar de operações que ajudem aos interesses Americano.


De volta à operação Áurea, as pessoas presas estavam em conexão com várias fazendas que se utilizavam de mão-de-obra escrava. A escravidão moderna funciona assim: o trabalhador desempregado aceita um emprego que paga o salário mínimo, junto com o emprego há a opção de moradia e a possibilidade de se comprar a prazo no comércio montado na própria fazenda e de propriedade do próprio fazendeiro. Não há etiquetas de preços em nada e ele também deve pagar pela moradia. Todo mês o empregado gasta mais do que recebe e o fazendeiro não está realmente preocupado em vender mantimentos e receber aluguel, apenas em ter o empregado amarrado a ele. A única diferença para a escravatura clássica é que os escravos pretos não ficavam devendo ao senhor de engenho pela moradia e comida. Maioria das fazendas de escravos, ainda como no passado, pertencia aos senhores de engenho que apenas incluíram ao portifólio o álcool, além do tradicional açúcar.


Uma das exceções era uma fazenda de cacau que pertencia ao presidente do Senado Nacional. Por determinação da constituição, a mesma que afirma que todos são iguais perante a lei, a PF não pode nem mesmo indiciar um senador sem autorização do STF. Durante algumas semanas os jornais e revistas noticiaram detalhadamente o envolvimento do senador, o relato de várias testemunhas com apresentação de provas que pareciam bastante realistas. Nenhuma comoção se formou até que a televisão passou a explorar o assunto e assim da noite para o dia um sentido de indignação era perceptível. O STF não se movimentou e vários meses depois uma representação por decoro parlamentar apresentada pela oposição foi finalmente levada a plenário e votada em sessão secreta. O Senador conseguiu absolvição por placar apertado, mas conseguiu. Continua insistindo que nada sabia sobre como o administrador da fazenda estava agindo de forma ilegal. Algumas semanas depois, uma revista de extrema direita de grande circulação lançou reportagem com novas denúncias. O mesmo senador havia usado um quadro falso de Van Gogh como garantia da dívida de INSS no passado. A dívida não foi paga e na execução da garantia verificou-se que o quadro não valia nada. O que seria estelionato para o cidadão comum, também está coberto pela manta da impunidade, digo imunidade parlamentar. Os outros fazendeiros de álcool, que não tinham a mesma imunidade, ficaram muito felizes em vender por muito bom preço suas fazendas para o fundo de pensão da Exxon antes que elas fossem hipotecadas para pagar as dívidas de INSS. Nenhum funcionário escravo recebeu o que lhe era devido até agora. É terrível imaginar que a CIA acabou se tornando um braço do departamento de comércio americano.


Hoje é o dia da votação também secreta da segunda representação ao conselho de ética do Senado. E aqui estou, entre a multidão, maquiado de Bozo pelo fato de ser tratado como palhaço, com a camiseta estampada com um quadro de Van Gogh e prevendo uma pizza de chocolate feita a partir do melhor cacau nacional.