Acredito que um dos maiores mal-entendidos dos ensinamentos cristãos é a interpretação popular do sentido de que o templo está em nós. Os evangélicos costumam ler e discutir a Bíblia bem mais que os católicos. Nós, católicos, somos reconhecidamente não leitores da Bíblia, exceto por uns poucos. Infelizmente os cristãos que conhecem alguma coisa sobre a Bíblia, o fazem de maneira superficial, não importando a sua denominação. A superficialidade provém da falta de compreensão do contexto histórico e religioso. Vamos, como muitos citadores de Bíblia, colocar duas passagens importantes do Novo Testamento que tratam do santuário (Templo) sem a contextualização:
I Coríntios 3:16 Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? 17 Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é sagrado.
João 2:13 Estando próxima a Páscoa dos judeus, subiu Jesus para Jerusalém. 14 E encontrou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas e também os cambistas assentados; 15 tendo feito um azorrague de cordas, expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os bois, derramou pelo chão o dinheiro dos cambistas, virou as mesas 16 e disse aos que vendiam as pombas: Tirai daqui estas coisas; não façais da casa de meu Pai casa de negócio. 17 Lembraram-se os seus discípulos de que está escrito: O zelo da tua casa me consumirá. 18 Perguntaram-lhe, pois, os judeus: Que sinal nos mostras, para fazeres estas coisas? 19 Jesus lhes respondeu: Destruí este templo, e em três dias o reconstruirei. 20 Replicaram os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este templo, e tu, em três dias, o levantarás? 21 Ele, porém, se referia ao santuário do seu corpo.
- Pronto! Tá vendo? Meu corpo é o templo e é sagrado. Só quando casarmos – diz a moça extremamente religiosa
- Mas ... – diz você enquanto fica imaginando como quer depedrar e vilipêndiar este monumento de templo que é a moça. Ao mesmo tempo imagina se isto está na Bíblia ou é invenção do Pastor ou Padre para frear os hormônios em embulição daquele pedacinho de paraíso.
- Mas ... – diz você enquanto fica imaginando como quer depedrar e vilipêndiar este monumento de templo que é a moça. Ao mesmo tempo imagina se isto está na Bíblia ou é invenção do Pastor ou Padre para frear os hormônios em embulição daquele pedacinho de paraíso.
Com tal barreira, o melhor é pesquisar e tentar descobrir que mensagem é esta. Quem se prestar a pesquisar vai descobrir exatamente o que eu vou escrever aqui, já mastigadinho. Os judeus de Jerusalém eram xenófobos e racistas, ao contrário da diáspora que era cosmopolita e tolerante. A diáspora (nome bonito para os judeus que vivem fora da Terra Santa) conseguiu carregar a ética judaíca para outros centros mais desenvolvidos como Roma e Egito e influenciar a classe-média alta destes centros. Muitos gentios (não judeus) viviam sob o ensinamento judáico, que bem ou mal permitiu que os judeus sobrevivessem como unidade por cinco mil anos até agora, enquanto civilizações mais ricas e bem armadas não duraram muito. Esta conversão nunca poderia ser completa, infelizmente, porque havia o fator geográfico da religião: o Templo de Jerusalém. No início, o cristianismo era mais uma das centenas de seitas judáicas que existiam na época. Se não fosse por Paulo, a mensagem não teria se tornado tão universal como se tornou. Paulo era da diáspora e teve a sensibilidade de compreender que aquilo era muito maior do que uma seita judáica poderia se transformar. Aquela mensagem era uma quebra de paradigma. Os Essênios, outra seita judáica da mesma época, quase tinham chegado lá. Eles se afastaram do centro corrupto do Templo e já começaram a ventilar a idéia de que o Templo estaria onde está a fé. Jesus de Nazaré, mais incisivo, fez como alicerce principal o desligamento do Templo com Deus. Os Essênios (parecido com os monges modernos) não conseguiam imagina Deus sem os judeus. O homem de Nazaré retirou o fator geográfico (o Templo somos nós) e o fator racista (pregava para cobrador romano, prostitutas e quem mais quisesse ouvir).
Em suma, o Templo está em nós significa que para estar perto de Deus a pessoa não precisa estar no Templo de Jerusalém. A mensagem é simples, a compreensão é sofisticada. Paul Johnson, um grande historiador, escreveu um livro sobre a história do Cristianismo e do Judaísmo. Vale a pena a leitura.
5 comments:
O cristianismo foi um passo à frente, sem dúvida. É muito mais sofisticado adorar um Deus incorpóreo que o Sol Nascente.
O que falta agora é o passo adiante: a fé sem Deus. Não existe a arte pela arte? por que não fé pela fé?
Já que o templo somos nós, que o decoremos com nossas cores.
Hemé,
Fé sem Deus (ou sem Sol Nascente) não existe. Talvez você se refira à civilização sem Deus. Isto já existe, é a Suécia. Entretanto mesmo para ser ateu é necessário tomar um lado. O ateu judeu é diferente do ateu católico que é diferente do ateu evangélico. Note aqui que eu falo do aspecto cultural e não religioso.
Claro e direto. Obrigado pela mastigada.
Obrigado pelo trecho bíblico estava procurando por ele.
Só uma coisa:
Zarastruta diz: Fé sem Deus (ou sem Sol Nascente) não existe.
Desta parte eu discordo, pois assim, como ficam os budistas? Eles participam de uma cultura não-teísta.
Para você eles não tem fé?
Esta discussão é muito boa!
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