Tuesday, March 21, 2006

Volta ao mundo em três semanas

Este é um texto antigo de uma viagem de três semanas que incluiu Alemanha (Frankfurt am Main), Portugal (Lisboa) e Estados Unidos (Las Vegas). Eu ainda morava no Brasil. O Big Brother ainda não tinha sido exibido no Brasil. É engraçado como o mundo NÃO muda:

Os únicos canais de televisão de alguma utilidade no hotel Rhein Main na Alemanha eram CNN e BBC, graças à minha completa ignorância na língua alemã, pois as opções na língua pareciam infinitas o que é um fato considerável, dado ao ao tamanho da Alemanha. Entre as expectativas de eleição do presidente americano que, à época, prometia ser uma questão de fácil resolução e não a maratona de recursos legais para a recontagem manual de votos na Flórida, como acabou acontecendo, surgiu um fato jornalístico de igual importância, ou pelo menos de maior urgência: o acidente com o avião da Air Singapore, em Taipé, na ilha de Formosa, mais conhecida por nós como Taiwan, por força dos componentes de computadores Made in Taiwan. Dividia-me entre BBC e CNN inicialmente, mas a maneira como a mesma notícia foi tratada por ambos os canais levou-me a ignorar a CNN deste ponto em diante. O ponto forte da CNN, como canal específico de notícia, é a cobertura ao vivo da notícia e aí encontra-se a armadilha. A maneira americana de crer que encontrar um culpado pode equiparar-se a resolver o problema, traço religioso que norteia aquela sociedade, levou o repórter a insistir em apontar como culpado o aeroporto de Taipé, já que a Air Singapure foi premiada como uma das empresas mais seguras do mundo. Ao tentar agir como advogado do diabo, como defensor das pobres vítimas do acidente, os ricos executivos ocidentais e orientais que fazem o comércio internacional dos componentes eletrônicos, o repórter beirou à irresponsabilidade ao tentar colocar palavras na boca do ministro dos transportes daquele país. O ministro, experiente, não adiantou informação alguma e se recusou a seguir a linha especulativa do repórter. Mais tarde, provou-se que o ministro estava certo e que, embora a visibilidade não estivesse boa, estava nos padrões aceitos internacionalmente e que o erro foi do piloto que se precipitou em uma pista interditada, batendo em material da obra durante a decolagem, para cair logo depois. A BBC, ao contrário, mostrou fatos e estava aberta a qualquer possibilidade, inclusive à possibilidade que se mostrou correta. E a escolha pela BBC mostrou-se acertada logo depois.

O programa Louis Theroux's Weird Weekends, ou em português algo como "os fins de semana esquisitos de Louis Theroux", como diz o título trata de assuntos bastante controversos, como pessoas que acreditam em extraterrestres, vivendo em função disto, e grupos de extrema direita. Ele é filho do escritor americano de livros de viagem e também novelista Paul Theroux. Mesmo com esta ascendência de novo mundo, Louis faz o estilo britânico, isto é, ele é BBC e não CNN. O programa que me chamou a atenção tinha como título "right-winged patriots", o que corresponde em português a algo como: "patriotas de extrema direita". O programa tem um certo estilo de Brasil Legal, que era apresentado pela Rede Globo por Regina Casé, não bem pelo modelo, mas pela maneira digna pela qual os entrevistados são tratados.

No episódio em questão, Louis encontrou um ativista que acreditava em uma conspiração global para destruir o homem comum, de proporções apocalípticas, que passava pela globalização. É certo que a globalização não é boa para o homem comum, ela privilegia apenas o capital (em especial o capital monetário e não os meios de produção do início do século) e a mão de obra que tenha um nível alto de especialização em áreas do conhecimento que estejam em evidência, como informática, nos dias de hoje. Partem também do princípio que a vida moderna não é boa para o homem. Dado ao alto número de pessoas que sofrem com doenças como síndrome do pânico e stress, é uma opinião a considerar. Este ativista lutou na guerra do golfo e era assustador, um Rambo, como veio a ser referido por Theroux que se assustou com o entrevistado. O homem era visivelmente desequilibrado. Por indicação deste Rambo, Louis chegou a pessoas que tinham trocado o mundo moderno por uma vida monástica, longe das facilidades da tecnologia. Louis foi dormir na casa de um deles. A casa não possuía calefação e estava nevando. No meio da noite, o seu anfitrião o acorda para fazer a ronda, no frio, em uma pickup. Durante a entrevista, descobre-se que o homem foi um próspero empresário da construção civil que morava em Nevada, mas em certo momento de sua vida sentiu-se ameaçado pelo governo e por isso agora vivia recluso, com a família. Os filhos estão fora da escola, recebendo educação em casa, o que é legal nos Estados Unidos. Eles não pagam mais impostos, o que é ilegal, mas também não recebem as benesses do governo. Este senhor mostrou-se ser uma pessoa bastante equilibrada, um pouco sectário em sua crença apocalíptica, mas equilibrado. Afinal o que leva um homem a isolar-se do conforto de uma sociedade? A banir-se quando tem chance de uma vida com conforto? Estas são questões sem respostas e talvez absurdas para maioria de nós que temos outra idéia do que vem a ser felicidade. Mas, para este cidadão, viver desta maneira é viver corretamente. O próximo ativista deste episódio era um Nazista americano. Sem comentários. O programa terminou com o sincero agradecimento de Theroux ao senhor que o acolheu em sua casa e abriu a sua intimidade e Louis pediu-lhe para que não fizesse nenhuma bobagem, afinal eles formavam um grupo paramilitar que poderia abrir fogo contra a polícia se sentirem-se ameaçados e há muitos casos assim que não terminam bem. Certamente o governo americano não está preocupado com um grupo de ativistas que não pagam impostos. Como dito, as vantagens da sociedade são maiores que a contribuição individual de seus membros para com ela. Não há mais espaço para chacinas como Canudos.

Em Portugal, a surpresa veio por meio do programa Big Brother. O observador talvez veja semelhança entre este programa e o global NO LIMITE. Há sim, mas este tipo de programa, com pessoas comuns sendo bisbilhotada não nasceu no Brasil ou em Portugal. NO LIMITE é cria do programa americano Survival. BIG BROTHER vem do seu homônimo holandês. O termo Big Brother vem do livro 1984 de Orson Welles que trata de uma sociedade totalitária e desumana que vigia seus cidadãos. O livro tornou-se filme, com Richard Burton e Susanna Hamilton, tendo sua versão cinematográfica sido escrita por Michael Radford, que também a dirigiu. O livro é interessante, mas não percam tempo assistindo ao filme, ou o assistam somente após lerem o livro. Voltando ao nosso programa de TV, o Big Brother português mostra o dia-a-dia de pessoas comuns que são confinadas em uma casa. Há um casal que faz sexo no beliche da moça. As câmaras para escuro não perdem o momento. O sexo praticado é tão sem graça, tão sem furor, sem emoção, sem sentimentos que chama atenção apenas pela curiosidade. Não é a toa que a moça está sempre de mau humor no dia seguinte.

Na TV dos Estados Unidos, as manhãs são invadidas pelo grotesco. Ratinho é apenas um aprendiz quando comparado com programas como o de Jerry. Esposa que perde o marido para um rapaz adolescente. Isto mesmo, a mulher descobriu que o marido era homossexual quando ele a trocou por um rapaz. Irmão encontra outro por acaso, o traz para casa e perde a mulher para ele. É tão irresistível o grotesco que é difícil desviar a atenção. Como o mundo das pessoas comuns é hipnotizante.

Monday, March 20, 2006

Lost


Eu acompanhava (e ainda acompanho) o seriado Invasion que passa na rede ABC. Eu utilizava o DVR (digital video recorder) para gravar o seriado e assistia depois, com mais calma e paciência. Antes deste seriado, passava um outro, Lost. Sempre dava para assistir aos últimos momento deste tal de Lost. O que eu via era um bando de pessoas em uma ilha depois de um acidente aéreo. Que seriado estúpido. Como alguém vai assistir a um seriado com esta idéia tão sem originalidade, que não deixa muita margem para o desenvolvimento de muitas tramas, até pelo número reduzido de personagens. Até Michael Eisner, o antigo todo poderoso da Disney, que é dona do grupo ABC, não acreditou no projeto: “Quem se importa com estas pessoas numa ilha deserta?”. O custo do piloto da série, que tem duas horas de duração, também não ajudou: os US$ 10 milhões foi o projeto mais caro da televisão. Eisner e eu estávamos errado.

Quando o Netflix (empresa de aluguel de DVDs por correio) me sugeriu a série, eu aluguei o primeiro DVD da primeira temporada. Neste momento, a segunda temporada já tinha começado e estava interrompida pelas festas de fim de ano. A minha reação à série foi simplesmente ficar de queixo caído. Nunca tinha assistido a uma série de TV tão inovadora (o Arquivo X que me desculpe) em toda a minha vida. Vi todo o primeiro ano em tempo recorde, como se nada mais importasse. Agora não suporto mais assistir à série Invasion, que passa depois do Lost. Li na UOL que a série vai passar na Globo. Espero que a dublagem não destrua a estória.

A estória de Lost é recheada de mistério, referências literárias e filosóficas. As maiores influências, entretanto, vêm de dois livros que nem mesmo têm tradução para o português ainda (e como são livros não muito atuais, talvez nunca tenham): Watership Down e The Third Policeman.

***** Não leia adiante se você não quiser estragar a novidade, não vou contar a estória do Lost, mas vou falar de alguns aspectos que vão antecipar assuntos da primeira e segunda temporada *****

Lost é uma série sobre um grupo de sobreviventes de um acidente de avião em uma deserta ilha tropical. A idéia da série foi iniciamente levada para a ABC no começo de 2004 por Jeffrey Lieber. O primeiro script não foi muito legal. Então Lloyd Braun contactou J.J. Abrams, o cara que criou Alias, uma outra série muito interessante e original (a estória de Alias é completamente sem pé na realidade, muito irreal mesmo, mas não se consegue parar de assistir). O roteiro foi reescrito e as filmagens começaram ainda no final de 2004, com os prazos bastante apertados, mas que permitiram bastante margem de manobra para equipe criativa que criou e recriou situações de acordo com o elenco que se queria na série. Lost recebeu o Emmy de série dramática excepcional em setembro de 2005.

A série começou em setembro de 2004, quando eu ainda estava no Brasil, mas de malas prontas para vir para cá. A série inicia com um episódio de uma hora de duração que conta o momento em que o vôo 815 da companhia aérea fictícia Oceanic que fazia o vôo Sydney (Austrália) para Los Angeles cai em uma ilha tropical aparentemente deserta. A série começa com Jack, um médico, levantando-se de paletó no meio de uma floresta tropical e com o desnvolvimento, nota-se que ele foi um dos sobreviventes. O avião se partiu em duas partes. Os primeiros momentos são tensos, mas bastante críveis. Não quero estragar surpresas...

Neste mesmo episódio longo, aparece algo misterioso (tão misterioso que não se sabe se é máquina ou ser vivo), que derruba grandes árvores. Este mistério permanece por grande parte da série (e ainda não está explicado). Mais tarde uma espécie de fumaça preta aparece associada ao fenômeno. E aí vamos fazer o primeiro contra-ponto. No The Third Policeman, um livro que foi somente publicado postumamente porque ninguém quis publicá-lo durante a vida do escritor, Flann O’Brien, um fictício filósofo e cientista irlandês, De Selby, que aparece apenas nas notas de rodapé (chega a tomar oito páginas de rodapé em uma ocasião), fala que a noite é a acumulação de ar negro. Esta fumaça preta tem algo a ver com as teorias de De Selby? Graig Wright, um dos co-autores, um uma entrevista ao Chicago Tribune, disse que quem leu o livro tem uma boa munição para teorizar sobre a série. Não é preciso dizer que depois disso as vendas do livro deram um salto e já está nos 100 mais vendidos da Amazon. O livro também aparece em um dos episódios. Este livro é bem esquisito e fala de coisas como a transferência de átomos entre as bicicletas e as pessoas e sobre uma cidade cheia de homens meio bicicletas e bicicletas meio homem. O protagonista do livro não tem nome e ele inicia sua saga assassinando e roubando um homem à procura de uma caixa-preta, que acredita ter um tesouro suficiente para financiar o estudo definitivo sobre a obra de De Selby. O livro termina onde começou e mesmo as leis da natureza, como gravidade, não são respeitadas. Em Lost as búsolas não apontam para o norte. Também não quero estragar o livro, mas vou utilizar uma frase do próprio O’Brien para vocês saberem o que esperar: “o inferno anda em círculo, sua forma é circular e por natureza é interminável e quase insuportável”.

O outro que merece atenção é o Watership Down, de Richard Adams, que é um livro infantil. O livro é sobre coelhos, mas ao contrário de outros livros infantis, estes coelhos não usam roupas e têm organização social, mitologia e linguagem própria. É um Senhor dos Anéis de coelhos. Fala da estória de um grupo de coelhos que deixa o seu coelheiro (não sei se coelheiro é o nome em português para curral de coelho, mas no inglês é warren) por que acreditam que o coelho chefe é meio autoritário. A moral do livro é bastante interessante para os dias de hoje: as organizações sociais acuadas pelo medo estão mais dispostas a aceitar lideranças que ofereçam proteção mesmo que isto implique em perda de liberdade. Em Lost existe uma luta implicita. Jack, Locke e Sawyer. Locke é democrático, Jack é autoritário e Sawyer é anarquista.

Eu queria escrever um post curtinho, mas vejo que não tem jeito. Vou agora fazer apenas um sumário daqui para frente:

Referencias Filosóficas:

Locke e Russeau são os filósofos do contrato social, os que falaram sobre a relação entre a natureza e a civilização: o microcosmo da série. Temos os personagens John Locke (um dos líderes) e Danielle Russeau (uma exploradora francesa que está na ilha 16 anos antes deste grupo). Tabula Rasa faz parte de uma teoria do filósofo John Locke e é o título do segundo episódio da série.

O protegido de Locke é o jovem Boone Carlyle. Na vida real, Thomas Carlyle foi um ensaista do século XIX que falou sobre a estrutura da liderança na sociedade.

Dharma é o caminho das verdades superiores de acordo como o Hinduísmo, Budismo e Daoísmo. Em breve vocês ouvirão falar da Iniciativa Dharma.


Referências Literárias:

Watership Down e The Third Policemen já foram comentados. Alice no País das Maravilhas (referência ao coelho branco por Locke quando Jack acha que viu o pai na ilha e a famosa frase de Locke: “tudo que acontece nesta ilha acontece por uma razão”). A Bíblia (em algum ponto surgirá o Mr. Eko e com ele mais citações, especialmemte sobre o livro dos Reis e o salmo 23). O Senhor das Moscas (Lord of the Flies) e o Mágico de Oz.


Teorias já derrubadas:

Os sobreviventes estão mortos ou no purgatório – J. J. Abrams desmentiu.

Eles estão presos em um armadilha de tempo – desmentida por Damon Lidelof.

Tudo não passa de uma realidade fictícia acontecendo nas cabeças de um ou mais sobreviventes – desmentida por Damon Lindelof.

Espaçonaves ou alieníginas influenciam os eventos na ilha – desmentida por Damon Lindelof.

A ilha é uma experiência de reality TV – desementida por Carlson Cuse.

A fumaça preta é uma núvem de nanorobôs como no livro Presa (Prey) do Michael Crichton – desmentida por Damon Lindelof

Saturday, March 18, 2006

A Série sobre a Catedral



Este é um detalhe de uma das pinturas do Hemetério sobre a Catedral de Fortaleza. Sou eu quem está neste detalhe, alguns anos mais moço e bem diferente. Espero que um dia ele publique estes quadros no blog...

Hope of Deliverance


No final de semana fui com a família para um churrasco, à moda brasileira, preparado por um americano. O tal amigo é o Ron, apresentado no post sobre o carnaval de Pflugerville. O churrasco era próximo de Fort Worth, na região de Dallas, na casa do chefe do Ron, uma figura importante no ramo de transportes.

A casa do Sr. X, como vou chamá-lo aqui, é impressionante, bem como o condomínio. Este local é um afluente subúrbio da região. Não se deixe enganar pelo palavra subúrbio, que tem conotação negativa no Brasil. Subúrbio é a designação da área mais afastada da cidade grande (neste caso Dallas). No Brasil, estar longe da cidade é mal, aqui é o contrário. Somente mora na cidade quem não tem outro jeito (exceto por Manhattan, onde morar na cidade é o que há de bom). Mas quem conhece Alphaville, em São Paulo, também entende o que é isto.

Eu tive a oportunidade de conversar bastante com o Sr. X. Uma pessoa notável: muito culto, educado e agradável. Também uma pessoa triste, de tristeza complexa. A tristeza de quem não se espanta com mais com nada, de quem não acredita em mais nada. E isto tudo porque ele é um daqueles que descobriu o sentido da vida: que a vida não tem sentido. Ah! maldito Sartre!

Ron (e Elza) são os arautos da esperança, pessoas que ainda procuram o sentido da vida e, nesta busca, acabam criando o sentido em si. Yuri e Alê também são pessoas desta linha, mas já não tenho a distância necessária para incluí-los sem bias. Uma expressão em inglês que é muito usada, principalmente em círculos religiosos, é o título deste post, Hope of Deliverance, que significa algo como fé em que as coisas irão dar certo. E esta fé não é para todo mundo. Quem perdeu a inocência, perdeu a fé. A religiosidade alija a humanidade e esta, a religiosidade. Este país foi fundado e é mantido pela Hope of Deliverance. O Sr. X não se enquadra. Parece mais europeu neste sentido.

Paulo era judeu, mas cidadão romano, que de tanta formação humanística perdeu a tal fé. Então algo aconteceu (fala-se da queda do cavalo e da famosa pergunta:”por que me persegues?”) que o fez perceber que algo nele havia quebrado (e não era nenhum osso). Ele escreveu uma das obras mais bonitas de todos os tempos, as famosas carta aos coríntios e é tido por muitos como o homem que criou o cristianismo universal, tirando-lhe o caratér de seita judáica, ainda ligada ao templo. Já Nietzsche percorreu o caminho contrário. De protestante convicto, de estudar bíblia no grego, passou a filósofo humanista, que desafiou os dogmas cristãos. Dois grandes homens, cada um a seu modo.

* O figura deste post é um detalhe de pintura do Hemetério

* Todos os comentários depois do post do Contos do Fim do Mundo foram apagados por um problema no índice do blogspot.com. Desculpe qualquer incômodo. Meu advogado já estrá tratando do assunto.

A Confusão da High Five




Desde primeiro de fevereiro que eu estou em um emprego novo. O emprego é em Las Colinas, no condado de Irving, TX. Acontece que desde de junho do ano passado eu me mudei de Rockville, MD, na área metropolitana de Washington, DC, para Plano, na área metropolitana de Dallas, TX. A mudança foi tão grande que eu levei dois dias dirigindo para chegar por aqui. Minha esposa logo conseguiu um emprego que paga até razoavelmente bem e por um tempo estava mantendo a casa enquanto eu procurava projetos de informática (e malhava para me manter um bom escravo sexual e compensá-la pelo esforço). A sorte mudou em janeiro deste ano, quando eu fui selecionado para trabalhar na empresa do sonho de todo desenvolvedor. Quem me conhece sabe onde estou hoje e quem não me conhece pode imaginar sem muito esforço.

A distância entre minha casa e o trabalho é de 25 milhas, ou 40 km. A estrada é maravilhosa e nada se parece com as estradas brasileiras. Plano é ao norte de Dallas, mais próximo do estado de Oklahoma do que de Austin, a capital do estado. O meu caminho inclui dez milhas sul na US 75 em direção a Dallas. Na saída 21, pego a saída para US 635 (também conhecida Lyndon B Johnson Freeway) oeste. Este entrocamento entre as rodovias é chamado pelo nome pomposo de Texas High Five e é uma confusão de vias (como pode-se observar na foto). Depois são mais 15 milhas até o meu destino. A High Five ainda está em construção, mas o principal já está pronto.

Meu horário inicial era de 9 às 6 com uma hora para almoço. Exatamente no horário de rush na ida. Eu levava entre uma hora e uma hora e meia para ir e cerca de 40 minutos para voltar. Um inferno. Para ver a situação da rodovia agora clique aqui e escolha “US 75 @ IH635-SE1”. Para efeito mais dramático veja a situação às 11h30 da manhã de Brasília (exatamente 8h30 aqui). Eu mudei o horário para 7h30 a 4h30, embora nunca consiga sair antes de 5h30 (normalmente só às 6h). Com isto, passo menos tempo preso no trânsito e mais tempo produzindo. Esta mudança faz com que eu passe entre 1 e 1,5 hora no transito todo dia. Por que eu não me mudo? Por que o trabalho da esposa é a apenas 10 minutos de distância e ela é quem leva e traz a Sofia da escolinha de bebês. Depois que você tem filhos sua vida não lhe pertence mais.

* Todos os comentários depois do post do Contos do Fim do Mundo foram apagados por um problema no índice do blogspot.com. Desculpe qualquer incômodo.

Grêmio Unidos de Pflugerville


Pflugerville (lê-se Flúguervil) é uma cidade pequena e próspera, próxima a Austin, TX e a apenas quinze milhas do Rio Colorado. A cidade, bem como a região próxima, deve muito de sua prosperidade a estar próxima do quartel-general da fabricante de computadores Dell e também da proximidade com a Universidade do Texas, campus central, conhecido como Longhorn. A cidade foi fundada oficialmente por William Bohls em 1860, quando este teimou em montar um armazém e uma loja de correios na sua casa. Bohls deu à cidade o nome do pioneiro, um alemão fugido da guerra prussiana, Henry Pfluger, que chegara àquelas bandas em 1849.

Se não fosse pelo Yuri, que era funcionário da Dell e tem uma casa em Pflugerville, nem você nem eu saberiamos da existência da cidade. Yuri foi contratado pela Microsoft, em Las Colinas, no dia primeiro de fevereiro. Acabou se mudando para Irving, TX (próximo de Dallas) e está morando na casa de amigos. Como o ano escolar aqui termina em junho, a mulher e filha ficaram por lá. Todo fim-de-semana o Yuri faz um trajeto de três horas e meia para chegar em Pflugerville e matar a saudade da família. Embora nós tenhamos nascido e morado na mesma cidade no Brasil, só conheci o Yuri (e vice-versa), graças a intervenção de outro amigo em comum, que mora na Califórnia e é funcionário Microsoft há mais tempo. Eu visitei o Yuri e a família pela primeira vez na casa dos tais amigos, quando a sua esposa, Alé, foi visitá-lo. Elza é uma artista carioca apaixonada pela vida, por carnaval e pelo marido, Ron, mas não necessariamente nesta ordem. Nesta visita, concordamos em passar o fim-de-semana do carnaval em Pflugerville. Lembro que carnaval não é feriado em canto algum, exceto no Brasil (Veneza e New Orleans não contam).

Nunca me senti mais no Brasil desde que mudei para cá do que neste fim-de-semana. Até TV por assinatura com a Globo e a Record eles tinham e minha esposa assistiu a um capítulo de Belíssima. O bom é que ela disse que estava curada de novela e não via mais necessidade de assistir. Um outro amigo brasileiro do Yuri, o Daniel, foi o anfitrião. No final das contas, a inventiva Elza preparou uma faixa do Grêmio Unidos de Pflugerville e preparou fantasias para todos. Foi divertido, teve gente que levou bem a sério e se fantasiou mesmo (como a palhaça e o xeque árabe da foto acima). Ano que vem tem mais. Abaixo a nossa família: