Monday, March 20, 2006

Lost


Eu acompanhava (e ainda acompanho) o seriado Invasion que passa na rede ABC. Eu utilizava o DVR (digital video recorder) para gravar o seriado e assistia depois, com mais calma e paciência. Antes deste seriado, passava um outro, Lost. Sempre dava para assistir aos últimos momento deste tal de Lost. O que eu via era um bando de pessoas em uma ilha depois de um acidente aéreo. Que seriado estúpido. Como alguém vai assistir a um seriado com esta idéia tão sem originalidade, que não deixa muita margem para o desenvolvimento de muitas tramas, até pelo número reduzido de personagens. Até Michael Eisner, o antigo todo poderoso da Disney, que é dona do grupo ABC, não acreditou no projeto: “Quem se importa com estas pessoas numa ilha deserta?”. O custo do piloto da série, que tem duas horas de duração, também não ajudou: os US$ 10 milhões foi o projeto mais caro da televisão. Eisner e eu estávamos errado.

Quando o Netflix (empresa de aluguel de DVDs por correio) me sugeriu a série, eu aluguei o primeiro DVD da primeira temporada. Neste momento, a segunda temporada já tinha começado e estava interrompida pelas festas de fim de ano. A minha reação à série foi simplesmente ficar de queixo caído. Nunca tinha assistido a uma série de TV tão inovadora (o Arquivo X que me desculpe) em toda a minha vida. Vi todo o primeiro ano em tempo recorde, como se nada mais importasse. Agora não suporto mais assistir à série Invasion, que passa depois do Lost. Li na UOL que a série vai passar na Globo. Espero que a dublagem não destrua a estória.

A estória de Lost é recheada de mistério, referências literárias e filosóficas. As maiores influências, entretanto, vêm de dois livros que nem mesmo têm tradução para o português ainda (e como são livros não muito atuais, talvez nunca tenham): Watership Down e The Third Policeman.

***** Não leia adiante se você não quiser estragar a novidade, não vou contar a estória do Lost, mas vou falar de alguns aspectos que vão antecipar assuntos da primeira e segunda temporada *****

Lost é uma série sobre um grupo de sobreviventes de um acidente de avião em uma deserta ilha tropical. A idéia da série foi iniciamente levada para a ABC no começo de 2004 por Jeffrey Lieber. O primeiro script não foi muito legal. Então Lloyd Braun contactou J.J. Abrams, o cara que criou Alias, uma outra série muito interessante e original (a estória de Alias é completamente sem pé na realidade, muito irreal mesmo, mas não se consegue parar de assistir). O roteiro foi reescrito e as filmagens começaram ainda no final de 2004, com os prazos bastante apertados, mas que permitiram bastante margem de manobra para equipe criativa que criou e recriou situações de acordo com o elenco que se queria na série. Lost recebeu o Emmy de série dramática excepcional em setembro de 2005.

A série começou em setembro de 2004, quando eu ainda estava no Brasil, mas de malas prontas para vir para cá. A série inicia com um episódio de uma hora de duração que conta o momento em que o vôo 815 da companhia aérea fictícia Oceanic que fazia o vôo Sydney (Austrália) para Los Angeles cai em uma ilha tropical aparentemente deserta. A série começa com Jack, um médico, levantando-se de paletó no meio de uma floresta tropical e com o desnvolvimento, nota-se que ele foi um dos sobreviventes. O avião se partiu em duas partes. Os primeiros momentos são tensos, mas bastante críveis. Não quero estragar surpresas...

Neste mesmo episódio longo, aparece algo misterioso (tão misterioso que não se sabe se é máquina ou ser vivo), que derruba grandes árvores. Este mistério permanece por grande parte da série (e ainda não está explicado). Mais tarde uma espécie de fumaça preta aparece associada ao fenômeno. E aí vamos fazer o primeiro contra-ponto. No The Third Policeman, um livro que foi somente publicado postumamente porque ninguém quis publicá-lo durante a vida do escritor, Flann O’Brien, um fictício filósofo e cientista irlandês, De Selby, que aparece apenas nas notas de rodapé (chega a tomar oito páginas de rodapé em uma ocasião), fala que a noite é a acumulação de ar negro. Esta fumaça preta tem algo a ver com as teorias de De Selby? Graig Wright, um dos co-autores, um uma entrevista ao Chicago Tribune, disse que quem leu o livro tem uma boa munição para teorizar sobre a série. Não é preciso dizer que depois disso as vendas do livro deram um salto e já está nos 100 mais vendidos da Amazon. O livro também aparece em um dos episódios. Este livro é bem esquisito e fala de coisas como a transferência de átomos entre as bicicletas e as pessoas e sobre uma cidade cheia de homens meio bicicletas e bicicletas meio homem. O protagonista do livro não tem nome e ele inicia sua saga assassinando e roubando um homem à procura de uma caixa-preta, que acredita ter um tesouro suficiente para financiar o estudo definitivo sobre a obra de De Selby. O livro termina onde começou e mesmo as leis da natureza, como gravidade, não são respeitadas. Em Lost as búsolas não apontam para o norte. Também não quero estragar o livro, mas vou utilizar uma frase do próprio O’Brien para vocês saberem o que esperar: “o inferno anda em círculo, sua forma é circular e por natureza é interminável e quase insuportável”.

O outro que merece atenção é o Watership Down, de Richard Adams, que é um livro infantil. O livro é sobre coelhos, mas ao contrário de outros livros infantis, estes coelhos não usam roupas e têm organização social, mitologia e linguagem própria. É um Senhor dos Anéis de coelhos. Fala da estória de um grupo de coelhos que deixa o seu coelheiro (não sei se coelheiro é o nome em português para curral de coelho, mas no inglês é warren) por que acreditam que o coelho chefe é meio autoritário. A moral do livro é bastante interessante para os dias de hoje: as organizações sociais acuadas pelo medo estão mais dispostas a aceitar lideranças que ofereçam proteção mesmo que isto implique em perda de liberdade. Em Lost existe uma luta implicita. Jack, Locke e Sawyer. Locke é democrático, Jack é autoritário e Sawyer é anarquista.

Eu queria escrever um post curtinho, mas vejo que não tem jeito. Vou agora fazer apenas um sumário daqui para frente:

Referencias Filosóficas:

Locke e Russeau são os filósofos do contrato social, os que falaram sobre a relação entre a natureza e a civilização: o microcosmo da série. Temos os personagens John Locke (um dos líderes) e Danielle Russeau (uma exploradora francesa que está na ilha 16 anos antes deste grupo). Tabula Rasa faz parte de uma teoria do filósofo John Locke e é o título do segundo episódio da série.

O protegido de Locke é o jovem Boone Carlyle. Na vida real, Thomas Carlyle foi um ensaista do século XIX que falou sobre a estrutura da liderança na sociedade.

Dharma é o caminho das verdades superiores de acordo como o Hinduísmo, Budismo e Daoísmo. Em breve vocês ouvirão falar da Iniciativa Dharma.


Referências Literárias:

Watership Down e The Third Policemen já foram comentados. Alice no País das Maravilhas (referência ao coelho branco por Locke quando Jack acha que viu o pai na ilha e a famosa frase de Locke: “tudo que acontece nesta ilha acontece por uma razão”). A Bíblia (em algum ponto surgirá o Mr. Eko e com ele mais citações, especialmemte sobre o livro dos Reis e o salmo 23). O Senhor das Moscas (Lord of the Flies) e o Mágico de Oz.


Teorias já derrubadas:

Os sobreviventes estão mortos ou no purgatório – J. J. Abrams desmentiu.

Eles estão presos em um armadilha de tempo – desmentida por Damon Lidelof.

Tudo não passa de uma realidade fictícia acontecendo nas cabeças de um ou mais sobreviventes – desmentida por Damon Lindelof.

Espaçonaves ou alieníginas influenciam os eventos na ilha – desmentida por Damon Lindelof.

A ilha é uma experiência de reality TV – desementida por Carlson Cuse.

A fumaça preta é uma núvem de nanorobôs como no livro Presa (Prey) do Michael Crichton – desmentida por Damon Lindelof

10 comments:

Anonymous said...

Antes de falar nesse série fantástica, gostaria de explicar o fenômeno Venderam Seus Ídolos. Funciona assim: voce descobre algo que poucos gatos pingados gostam e formam um pequeno circulo. Mas de repente, vem o BOOM! De repente U2 é A Banda favorita de todo mundo. Criancas, velhos, recem-nascidos falam em mesas de bar sobre u2. Uma velha grita no bar que vende ate a casa pra pegar no Bono. Isso vem me causando um ciume sem sentido em mim. Sem sentido pq se eu acho bom entao devia realmente ser famoso e todos gostarem. Mas infelizmente sabemos que geralmente se tem mais de 6 pessoas na capa e vende mais de 500 mil cópias significa que não presta. Li isso em algum lugar. POis bem, agora é a vez de Lost. Que acompanho desde os primórdios, correndo atras de legendas, traduzindo algumas, era uma caça. De repente GLOBO e todos querem saber os misterios da ilha. Obviamente apelo e baixo os episodios na web, torrents. Lost tem aqueles episodios de gritar um PUTA QUE PARIU! Simplesmente fantastico, andei vendo uns forums por ae mas acho que prefiro ficar no "deixa a serie me levar". Percebo algumas referencias, mas evito agora ler sobre conspirações.

Pra compensar os textos grande so um comentario grande :D

Hemeterio said...

Comentei assim no meu blog, e copio pro Z:

O texto de Lost tá um apuro de pesquisa e mais: erudição. Só o Borges e o Umberto Eco aparentemente sabem tudo sobre tudo e se um deles fosse resenhar Lost sairia parecido com teu texto.

E tome labirintos!

edge said...

esses sao os famosos spoilers:) ainda bem q tu avisou no meio do texto.

eu, francamente, parei de assistir ainda mesmo no primeiro ano. enfim, cada um com seus gostos :)

Zarastruta said...

M.

Quando o programa virar mainstream, você vai ver a banalização da série e as bobagens que serão ditas.

H.
Obrigado pelo elogio. Umberto Eco é que não gostou muito.

E.
Estragar surpresa se eu dissesse que dois dos personagens da foto vão morrer (um na primeira e o outro na segunda temporada) e que outros dois vão desaparecer. Mas eu não sou disto.

Anonymous said...

Eu lia na internet sobre LOST. E só de ler eu já fiquei curioso. Quando a Globo passou a exibir, pronto.

Dormir tarde e acordar cedo era um saco. Quando o horário de verão acabou no meio da série então... Mas valia a pena.

Agora é esperar pela segunda temporada que a Globo só vai exibir em 2007. Paciência, pacíência.

Zarastruta said...

John,

A ABC vai disponibilizar todos as séries dela (incluíndo Lost) para download gratuito. A única coisa é que é em inglês sem legendas.

Anonymous said...

http://webinsider.uol.com.br/vernoticia.php/id/2876

Anonymous said...

Ah, e agora com a participação do Santoro! O talento interpretativo na sua forma mais pura!

Zarastruta said...

Doctor Mad,

Nunca subestime o Santoro. Veja o meu post sobre isto mais acima.

Anonymous said...

Tudo bem amigo...
Quero dizer que gostei muito da sua publicação a respeito da serie lost...

Paraben e se puder me enviar o endereço dos videos que tem feito sobre a serie eu ficaria muito feliz...

Ass: Robson Amorim
Coringa_msn@hotmail.com